IV Capitulo

15/06/2011 17:58

 IV- Corredores;

Caminhamos pelos corredores por algum tempo em silencio, observei David o acompanhando, ele realmente perecia saber onde estávamos indo, ele andava calmo e despreocupado, olhando as paredes com curiosidade, andava observando cada detalhe como se aquelas paredes velhas fosse interessantes, algumas vezes achei que ele estava indo por um caminho pelo qual eu não havia passado, pensei em dizer algo, mas, ele estava tão certo do que estava fazendo, que resolvi me manter em silencio.
Depois de algum tempo andando David parou me olhando com reprovação.
_Você mentiu pra mim não foi?_ Sua voz saiu áspera, e apesar de ter sido uma pergunta, ele parecia ter certeza do que estava falando.
_Menti?_ respondi me encolhendo, por um momento me senti com medo de David, não medo de ele fazer algo comigo, medo de ele me deixar ali sozinha, eu já estava sozinha o suficiente, não precisava ser abandonada de novo.
_É você mentiu, pode falar Eliza_ ele me encarava serio, com uma expressão brava, como jamais tinha visto ele nesses poucos minutos que o conhecia_ Porque hein? O que você esta ganhando com isso? Qual a sua intenção? me fazer de idiota? Quem te mandou aqui? Por que...
_David!_ O interrompi_ Eu sou a Eliza lembra?_ disse alto, o fazendo mudar a expressão_ A garota problemática, que se perdeu nos corredores e que precisa da sua ajuda.
David fitou o chão serio.
_David _ disse mais calma_ porque acha que eu menti pra você?
_Eliza_ respondeu olhando para as paredes_ olha essas paredes! _voltou a me olhar_ nos estamos no orfanato.
_Não estamos não_ respondi sem entender.
_Ta vendo aquela porta?_disse apontando para uma porta velha atrás de mim, me virei para olhá-la enquanto ele continuava a falar_ fiquei preso ali por duas horas semana passada.
Voltei a olhá-lo incrédula, ele percebeu minha reação e tentou se explicar
_ Uns garotos! Pegam muito no meu pé, eles me prenderam ali, fiquei ai ate um monitor me encontrar_ disse fitando a porta.
Ele contava a historia com tanta certeza que por um momento acreditei no que ele estava falando. voltei a olhar a porta antes de perguntar.
_Ninguém antes dele te ouviu gritar?
_Eu não gritei_ ele não mudou a expressão ao responder_ só chorei, mas já ouvi muita gente gritando e chorando neste lugar._ ele continuava fitando a porta, parecendo estar em pensamentos distantes.
Sacudi a cabeça algumas vezes voltando pra realidade, aquilo não era possível, estávamos no aeroporto, em corredores imundos, perecia que não ia ninguém La a décadas.
_David_ disse alto entrando em sua frente, bloqueando sua visão para a porta_ Para com isso, você ta começando a me assustar sabia?
_Do que você esta falando?_ me olhou nos olhos, parecendo realmente não saber do que eu falava.
_David olha essas paredes_ disse apontando para as paredes em ruínas a nossa volta, e me virei para apontar a porta_ Olha essa porta David, olha todas essas portas, e essas cadeiras_ olhei pro corredor vendo pela primeira vez um vaso de plantas vazio e imundo ao lado da porta que David insistia em olhar_ Olha esse vaso, ele esta vazio, esse lugar esta em ruínas David, essas portas estão totalmente destruídas, um empurrão e elas vão pro chão...
_Ta dizendo que eu fiquei preso por que quis?_ disse parecendo um pouco bravo comigo.
_Não!_ tentei dizer exatamente o que eu tentava, tentando acalmá-lo, e evitando que ele perdesse a paciência comigo, afinal como eu sairia dali sem ele?_ Quero dizer David, que parece que não vem ninguém aqui há anos, esse lugar esta abandonado há muito tempo, não tem como você...
_Meu Deus_ David passou por mim olhando as paredes e o chão prestando atenção em cada detalhe de novo, voltou a me olhar quando respondeu_ Você tem razão.
Mantive-me em silencio eu não sabia o que estava acontecendo ali, eu já pensava na possibilidade de estar dando atenção a um louco, preferi esperar o que ele tinha a dizer.
_Eu me lembro desse lugar iluminado, lembro dos meninos correndo por esses corredores, o monitor de cara fechado me observando daquela sala..._ele dizia apontando pro corredor e para as portas, falava com tanta certeza e com tanta riqueza de detalhes que eu podia imaginar aquele lugar iluminado, como ele dizia.
David falou por algum tempo, contando historias de seu primeiro mês no orfanato, parecendo fugir da realidade, mais não parecendo louco.
_Mas o que aconteceu aqui?_ disse ele de repente, com a expressão triste_ Quanto tempo eu fiquei preso?
_David realmente essas perguntas eu não posso responder, mais será que agente pode sair daqui?_ disse assustada reprimindo outro espirro_ Eu não sei mais quanto tempo vou agüentar essa poeira.
_Claro_ disse me olhando com uma expressão triste.
Voltamos a andar pelos corredores em silêncio como antes.
Não demorou muito ate David voltar a parar. Dessa vez eu não disse nada, ele estava de cabeça baixa pensativo, olhou pra trás por alguns segundos, fitando o corredor escuro, minha barriga roncou de fome em um som alto chamando a atenção dele, ele me olhou, e olhou pra frente novamente.
_Você ainda esta com fome_ disse ele olhando pra frente.
Não foi uma pergunta, ele estava dizendo que eu estava com fome, e eu realmente estava, afinal algumas bolachas não mataria a fome de quase dois dias, minha barriga estava oca, me estomago estava doendo, doía ate ao andar, minha garganta estava seca, e eu estava com sede.
_É eu estou!_ disse me perguntando se eu devia dizer mais alguma coisa.
_Eliza ta vendo aquela porta ali na frente?_ disse ele apontando uma porta no fim do corredor.
_Sim, estou vendo_ respondi me perguntando o que teria trás dela_ O quê que tem?
_Pelo barulho, ela da pro aeroporto que você disse que tem aqui_ disse ele ainda olhando para a porta.
Havia um silencio interminável, podia ouvir o ranger de uma porta batendo com vendo longe dali, podia ouvir ate alguns mosquitos que sobrevoavam a minha cabeça, mais barulho que representava o aeroporto? Eu não ouvia nem um som de pessoas ou coisa parecida, abri a boca pra perguntar, mais ele me interrompeu.
_Eliza_ disse passando pra minha frente me encarando com seus olhos azuis, novamente fiquei anestesiada com sua beleza, ele se aproximou de mim como se fosse me beijar, esperei ansiosa pelo seu toque, mais ele parou me olhando nos olhos fazendo com que meu coração quase saltasse pela boca.
 _Atrás daquela porta esta o aeroporto, e como você mesma disse a parte civilizada deste lugar, você agora vai me prometer uma coisa tudo bem?
_Qualquer coisa_ eu não queria dizer isso, as palavras saíram como se isso fosse à única coisa a dizer, eu estava hipnotizada por aqueles olhos, por aquela boca, eu nunca havia me sentido assim antes por ninguém alem de Lucas.
Eu sabia que não podia estar apaixonada por David, não acreditava em amor a primeira vista e coisas do tipo, porem, eu me senti muito estranha ao ver ele ali tão perto de mim, reprimi essas idéias antes que ele me falasse o que queria de mim, tentando manter meu coração no lugar.
_Você vai sair por aquela porta agora_ ele não me pedia, me dava uma ordem, olhando no fundo dos meus olhos de uma maneira que me arrepiava, nossos rostos estavam tão perto que com qualquer movimentos nossos narizes se encostaria_ Vai atrás do que esta precisando, pode demorar o tempo que for eu estou acostumado a esperar, mais vai me prometer Eliza, que vai voltar, Você promete?
Eu não respondi, não consegui, ainda estava tonta com o que estava sentindo.
Assenti com a cabeça.
_Me promete outra coisa?
Novamente assenti com a cabeça, ainda não conseguindo encontrar minha voz.
_Não vai me esquecer?_ desta vez seu tom era menos serio e mais irônico.
Pude respirar.
_Never _Respondi.
_Como?_ perguntou com um olhar curioso e assustado com minha resposta.
_Never, Nunca em inglês_ Expliquei.
_A é_ Respondeu com um sorriso torto, rindo de si mesmo, se afastando de mim e me contornando, enquanto falava_ Só não se esqueça do que me prometeu ta bom?
_Tudo bem, não vou esquecer_ respondi já não podendo vê-lo mais, sendo que ele já estava atrás de mim_ mas e você, porque não vai comigo?Você não esta com..._ terminei de falar me virando pra trás para vê-lo __... Fome?_ me assustei ao ver que ele já não estava mais La, um arrepio percorreu minha coluna ao ver o corredor vazio atrás de mim, o escuro total, o frio e a solidão, me fizeram tremer, eu não sabia onde estava David, mais sabia que aquelas portas provavelmente estavam trancadas, e que ele não poderia ter chegado ao final do corredor tão rápido ao menos que corresse, e eu não havia ouvido o som de seus passos correndo, alias, eu nunca havia ouvido o som de seus passos.
O medo tomou conta de mim, quando a possibilidade daquela porta, que podia me dar à liberdade, estar trancada, uma pontada de desespero me tomou me fazendo correr ate a porta. Peguei a maçaneta de mau jeito no susto, fazendo com que minha mão escorregasse, a porta não abriu, e eu pude sentir meu coração acelerar três vezes mais, eu estava a ponto de dar um ataque cardíaco, demorei dois segundos para tentar de novo, a porta abriu.
Uma luz ofuscante entrou pela porta, junto com um barulho insuportável, meus olhos já acostumados com a escuridão dos corredores, queimaram com a luz da liberdade, tampei meu rosto com minhas mãos, e fechei meus olhos apertando-os, Demorei alguns segundos ate conseguir distinguir o que ouvia, Pude ouvir barulho de muitas pessoas conversando, e algumas ate gritando, os aviões, e muitos outros que não pude distinguir.
Minha barriga esta oca e roncava sem parar, meu estomago doía como se algo estivesse sendo roído La  dentro, meus olhos ainda estavam ardendo, meus nervos  estavam a flor da  pele, conseqüência das variações de estado de espírito das ultimas horas,  eu ainda sentia medo, sede  e solidão, eu não tinha  família,  nem  pra  onde ir,  não sabia  se poderia ficar no  aeroporto  ou  se encontraria David de novo, alias,  eu não sabia quem era David, e a hipótese  de ele  ser um louco ainda não estava descartada, embora os últimos acontecimentos terem o tornado totalmente  confiável pra mim, resumindo, eu estava sozinha e perdida mais tudo  isso não fazia mais importância, e embora essa idéia me fizesse me sentir uma idiota, assim que vi  todas aquelas pessoas, a   única que procurei entre elas, pedindo desesperadamente a Deus que  encontrasse, era Lucas.
 Uma lagrima desceu em meu rosto.
_O que eu vou fazer agora?
Me perguntei, não obtive resposta, e com certeza, não seria fácil encontrá-la
 
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